Segundo a insuspeita voz do dono, a TPA, o general Higino Carneiro alertou os militantes do MPLA para não se iludirem com mensagens falsas dos adversários que pretendem desviar a atenção da população e dar a ideia de que o Executivo não tem soluções para resolver os problemas do povo e que o país não tem rumo.
Por Orlando Castro
“Q uando não se conhecem as regras de funcionamento dos órgãos do Estado, pensa-se que os governantes ou os políticos investidos em funções da Administração Local e Central do Estado usam os recursos do Orçamento Geral do Estado como se de suas contas pessoais se tratasse. Isso é falso. Não é verdade”, disse Higino Carneiro.
O dirigente do MPLA afirmou que não há má gestão do erário, e recordou que o dinheiro do Estado é usado na construção de residências para os funcionários públicos, cidadãos comuns, autoridades tradicionais, instituições religiosas e para os antigos combatentes e veteranos da pátria, no âmbito do programa de construção de 200 fogos em todos os municípios do país.
Higino Carneiro assinalou ainda que o Executivo gasta o dinheiro na construção de milhares de quilómetros de estradas, pontes, novas centralidades, centenas de hospitais, centros e postos de saúde, escolas de ensino primário e secundário e na melhoria da qualidade de vida dos angolanos. “Repudiamos todos quantos transmitem informações infundadas em Angola e no estrangeiro, com o propósito de buscarem simpatias e apoios inconfessos para mudarem o rumo de um país que tem história e um longo caminho a percorrer”, declarou.
À juventude do MPLA, Higino Carneiro pediu para ter calma e esperança, ser criativa, compreensiva, modesta, responsável perante os bens públicos, respeitadora, organizada, disciplinada, dedicada ao trabalho, participante activa em actividades desportivas, de solidariedade para os mais necessitados e de carácter social. Entre essas actividades, apontou a campanha alargada de limpeza a ser preparada pelo Governo da Província de Luanda, com apoio das igrejas, Forças Armadas Angolanas e Polícia Nacional.
“Mostrem a Luanda que o mês de Abril é vosso. Realizem a vossa jornada com acções que engrandeçam o vosso papel”, apelou Higino Carneiro, dando a conhecer que os pormenores logísticos da campanha estão na fase final.
Terá Higino Carneiro ouvido José Eduardo dos Santos quando este, no passado dia 11, disse aos membros do Comité Central do MPLA: “Temos de prestar mais atenção ao desempenho dos quadros, aos quais foram confiadas tarefas de gestão, combater com mais firmeza a gestão económica danosa ou irresponsável nas empresas públicas e a falta de disciplina na execução dos orçamentos afectos aos serviços da Administração Pública Central e Local”?
Se ouviu ou não, se lhe dá alguma importância ou não, não parece ser para Higino Carneiro algo com que se preocupe. E se é assim em relação ao “querido líder”, o que dizer relativamente “aos adversários que pretendem desviar a atenção da população e dar a ideia de que o Executivo não tem soluções para resolver os problemas do povo e que o país não tem rumo”?
E quem são esses? São todos os que já eram (oposição política e social) mas, agora e finalmente, a Igreja Católica.
A Igreja Católica (angolana) que, num raro e atrasado mas louvável laivo de sanidade mental, afirma com todas as letras que a falta de ética, a má gestão do erário público e a corrupção generalizada estão na origem da crise económica e financeira em Angola, e não apenas o petróleo, como tem dito o Governo.
A Nota Pastoral, divulgada no passado dia 9, no final da primeira assembleia ordinária da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (Ceast), faz uma radiografia tão real quanto catastrófica para o regime que é responsável pela situação actual do país.
Os responsáveis católicos lamentam “o agravamento preocupante da pobreza das populações e a paralisação paulatina dos agentes económicos”, devido às dificuldades na renovação de mercadorias por falta de poder aquisitivo”, bem como a “falta de critérios no uso dos fundos públicos, gastos exorbitantes, importação de coisas supérfluas, que não aproveitam às populações”.
“Aumenta assustadoramente o fosso entre os cada vez mais pobres e os poucos que se apoderam das riquezas nacionais, muitas vezes adquiridas de forma desonesta e fraudulenta”, acusa a CEAST que é peremptória ao afirmar que a crise actual em Angola deve-se também à “mentalidade de compadrio ao nepotismo, em acúmulo à discriminação derivada da partidarização crescente da função pública, que sacrifica competência e o mérito”.
Ao fazer uma radiografia do país, os bispos católicos citam o aumento do índice da mortalidade de crianças e adultos, devido ao paludismo, diarreia e febre-amarela, a falta de água, a acumulação do lixo, desvio de medicamentos para farmácias ou unidade de saúde privadas, enquanto muitos hospitais têm falta de medicamentos e nem conseguem alimentar os doentes.
A seca no sul de Angola não passou ao lado da Conferência que apela à mobilização de todos para ajudar os que sofrem e exige uma definição de “políticas concretas que ponham fim a estes males crónicos”.
Com tudo isto, não admira que o general Higino Carneiro veja na Igreja Católica um alvo a abater. Ou será que, mais uma vez, o regime a vai (re)comprar?